quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Precisamos falar sobre Kevin

Capa inspirada no filme

"Li alguns livros muito bons este ano (desde os brilhantes Homem Comum, de Philip Roth, e Na Praia, de Ian McEwan, até a estréia promissora da carioca Maria Helena Nascimento, em Olhos Baixos), mas o que me deixou com os quatro pneus arriados foi Precisamos Falar Sobre o Kevin, de Lionel Shriver. Um livro obrigatório por inúmeras razões, mas vou tentar salientar duas ou três.
Talvez aí resida o melhor do livro: ele rejeita as versões oficiais, aquelas que engolimos facilmente, que nos descem sem esforço. Quem narra a história é a mãe do assassino, um garoto de 16 anos que nasceu perverso por natureza, mas que chegou às raias da insanidade ao atirar premeditadamente em 11 colegas escolhidos a dedo para morrer. Se fosse um livro como os outros, a mãe faria um mea-culpa choroso, dizendo que precisou trabalhar fora e com isso a educação do filho ficou descuidada. Ou iria falar sobre más influências. Ou então defender que ele foi excluído pela sociedade por ser asiático, ou negro, ou gay ou simplesmente por ser mais um deprimido, mas isso seria tão rasteiro quanto sonolento. E o livro é o oposto: é uma bofetada a cada página. Nunca gostei de apanhar, mas esse livro me nocateou e ainda terminei dizendo “quero mais”. " (Martha Medeiros - artigo publicado em Zero Hora - 09/12/2007)



Capa original do livro


Eva Katchadourian na verdade nunca quis ser mãe — muito menos a mãe de um garoto que matou sete de seus colegas de escola, uma professora queridíssima, e um servente de uma escola dos subúrbios classe A de Nova York. Para falar de Kevin, 16 anos, autor desta chacina, preso em uma casa de correção de menores, a escritora Lionel Shriver arquitetou um thriller psicanalítico onde não se indaga quem matou. A trama se desenvolve por meio de cartas nas quais a mãe do assassino escreve ao pai ausente. Nelas, procura analisar os motivos da tragédia que destruiu sua vida e a de sua família.

"Quando Rose me disse que houvera uma agressão perversa na escola de Kevin e que havia um temor de que alguns alunos tivessem morrido, eu me preocupei com o bem-estar dele. Nem por um segundo imaginei que o criminoso fosse nosso filho." (Citação do livro)

Dois anos depois do crime, ela visita o filho regularmente. Aterrorizada por suas lembranças, Eva faz um balanço de sua trajetória onde analisa casamento, carreira, família, maternidade e o papel do pai. Assim, constrói uma meditação sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.






Ao relembrar o passado, reexamina desde o seu medo de ter um filho ao parto do bebê indócil que assustava as baby-sistters. Mostra o garoto maquiavélico que dividia para conquistar. Exibe o adolescente que deixava provas de péssima índole. "Precisamos falar sobre Kevin" (leia o primeiro capítulo) cria polêmicas ao analisar as sociedades contemporâneas que produzem assassinos em série ou pitboys. Estimula discussões sobre culpa e empatia, retribuição e perdão nas relações familiares, e nos leva a debater uma questão tenebrosa: poderíamos odiar nossos filhos?

"A americana Lionel Shirver, de 50 anos, escreveu um livro polêmico e primoroso (...). Sétimo romance da autora, a obra (...) se tornou best-seller - merecidamente. Uma de suas grandes qualidades está na forma como a escritora evita estereótipos sobre o tema." (Veja)

Lionel Shirver
                                                       
Lionel Shirver já havia publicado seis romances antes do best-seller "Precisamos Falar sobre Kevin". Este, que foi recusado por trinta editoras, rendeu-lhe o Prêmio Orange, na Grã-Bretanha, em 2005, concedido apenas a escritoras.

Outros títulos da autora publicados pela Editora Intrínseca: Dupla Falta e Mundo Pós-aniversário.



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